Do Baú:
Volto a casa
no silêncio de fim de tarde
silêncio absoluto
perfil de montanhas
Sou da mesma matéria dessas montanhas
desse silêncio absoluto desse fim de tarde
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Do Baú:
Movimento-me em câmara lenta
um ritmo que altera o tempo
e continua a rodar
estranhamento lento
Neste palco sou espectadora de mim própria
Vejo poesia nesses gestos que não são meus
e no entanto sei-os meus
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Do Baú:
Movo-me neste palco
inventando outras cenas
transformando o cenário
alterando os diálogos
recriando as personagens
O meu sonho já não cabe
nesta peça
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Do Baú:
É este o teu cenário
só tens de representar o teu papel
esse aí no guião
com um pouco de convicção
mas não demasiada
Está tudo montado
e preparado
atenção à entrada
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Do Baú:
Penso ter sobrevivido razoavelmente bem
estes anos todos
Arrasto-me por hábito
por uma necessidade mecânica
Mas viver era ter um sonho
e ser fiel a mim própria
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Do Baú:
A memória altera os acontecimentos
valoriza-os, transforma-os continuamente
Alguns são desvendados
descobrimos-lhes significados
outros permanecem enigmas
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Do Baú:
Pensei, a vida é um puzzle
cheguei mesmo a pensar que um dia conseguiria
juntar as peças todas
mas há sempre peças que faltam
e as peças que encontramos
nunca são as que procurámos
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Do Baú:
O que as pessoas dizem ou fazem
para se sentir acompanhadas
Lembro-me de me ter aproximado desse abismo
a que chamam paixão
do qual se sai sempre mais sábio
e mais solitário
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Do Baú:
Saboreio de novo o verde o azul
o cintilar do sol nas árvores e no chão
os cheiros a preguiça os risos
a água tépida no rosto nas mãos nos braços
e os sons (os sons que lembram tanta coisa)
os sons da noite
acabada de anoitecer